A guerra interna entre FIFA , UEFA e CONMEBOL podem trazer consequências diretas para o futebol
O interesse da FIFA de modificar o calendário do futebol internacional não é novidade para ninguém. Porém, quase todos imaginavam que o plano se resumia em reduzir as Eliminatórias e as datas dos jogos de seleção, mas a instituição foi além: colocou em cheque a Copa do Mundo de quatro em quatro anos e quer mudar para que ela aconteça de dois em dois anos. O estudo feito por um grupo liderado por Arsène Wenger, ex-técnico do Arsenal, dentro da FIFA já começou a ser apresentado para outras federações e vem gerando críticas das representantes das federações sul-americanas e europeias.
Para contra-atacar o plano da FIFA de transformar a Copa do Mundo em um torneio bianual, a UEFA está tentando unir forças com outras confederações ao redor do mundo para ir contra as propostas da Federação Internacional de Futebol. A maior aliada nessa luta é a CONMEBOL e as duas teriam planos de criar uma nova competição entre seleções europeias e sul-americanas, bem parecida com a Liga das Nações.
O plano da FIFA
No atual calendário do futebol, existem cinco meses onde temos data-FIFA: março, junho, setembro, outubro e novembro. Nessas datas, as seleções se reúnem para jogarem Eliminatórias para as competições ou jogos amistosos. A principal ideia do plano da FIFA seria enxugar essas datas e, para isso, são apresentadas duas propostas:
1) Para agradar os times e a federação europeia, a Fifa criaria uma super janela entre outubro e novembro, de quatro semanas. Seria uma única Data Fifa no meio da temporada europeia e nela ocorreriam as Eliminatórias para a Copa do Mundo bienal e para os continentais (até oito rodadas), como Euro e Copa América, que pelo plano da Fifa também aconteceriam a cada dois anos.
- outubro/novembro: super janela de 4 semanas
- junho/julho: torneios oficiais, como a Copa do Mundo (em anos pares) e os torneios continentais em anos ímpares, com as temporadas europeias já finalizadas
2) Duas janelas por ano: uma de duas a três semanas entre outubro e novembro e outrade uma a duas semanas, em março.
- outubro: duas a três semanas
- março: uma ou duas semanas
- junho / julho: torneios oficiais, como Copa do Mundo (anos pares) e continentais (anos ímpares), com as temporadas europeias finalizadas.
Apesar dos técnicos de seleções perderem datas para amistosos, eles ganhariam períodos mais longos para trabalhar seus times. Já os clubes veriam seus atletas viajarem menos vezes por ano, com menos desgaste.
O problema é que , de acordo com o plano apresentado, os jogadores teriam férias entre julho e agosto de ao menos três semanas. Isso não contempla ajustes em calendários que têm seus campeonatos realizados de janeiro a dezembro, como o Brasil por exemplo.
Esse projeto agrada outras federações, como a CAF (Confederação Africana de Futebol), federações menores da Ásia, com Nepal e Bangladesh. À periferia do futebol, como essas federações são chamadas dentro da Fifa, o projeto tem alcance quando fala que haverá maior rotatividade na escolha das sedes da Copa do Mundo e ter mais chances de chegar nas fases finais da competição. Porém, para que o projeto seja aprovado no próximo congresso que vai ocorrer em 31 de março, em Doha, ele precisaria ser aprovado pela maioria das 211 entidades participantes.
A jogada dos europeus e sul-americanos
As principais movimentações contra as ideias de uma Copa do Mundo bianual da FIFA são da elite do futebol mundial: UEFA e CONMEBOL. Em sua proposta mais ousada, a instituição europeia apresentou à Conmebol um plano de incluir países sul-americanos na Liga das Nações. O torneio de seleções criado pela união europeia em 2018 para que seus filiados tenham uma competição oficial durante período das datas Fifa em que ocorriam apenas amistosos. A proposta agradou bastante os sul-americanos, principalmente Brasil e Argentina, que já tinham interesse e dificuldades em marcar amistosos com as seleções europeias.
A ideia ainda está bem crua, mas à princípio reuniria os quatro melhores da Liga das Nações Europeias ou da Eurocopa e os quatro primeiros da Copa América em um torneio, com regulamento a definir. Isso ocorreria a cada quatro anos. Para reunir as ideias, Uefa e Conmebol abriram recentemente um escritório conjunto em Londres para trabalhar projetos comerciais e de torneios. O primeiro passo a ser dado será o confronto entre os campeões da Euro e da Copa América de 2021, Itália e Argentina, em junho de 2022. Ele provavelmente acontecerá no estádio de Wembley, em Londres e seria o embrião de uma futura Liga das Nações.
O movimento de rebelião contra a FIFA foi bem forte no continente europeu, sempre com o aval da UEFA.O movimento contra a Copa bienal partiu de algumas associações, principalmente as nórdicas, mas sempre com o aval da Uefa. Em nota forte, as federações da Noruega, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Islândia e Ilhas Faroe afirmaram serem contra o Mundial bienal e falaram em tomar atitude drástica caso a ideia seja aprovada. Segundo a imprensa, a medida seria abandonar a FIFA, o que é permitido pelo estatuto da instituição se a saída for solicitada seis meses antes do fim de cada ano.
Esses movimentos esfriaram a ideia de Infantino de correr com a proposta da Copa bienal. A Fifa deve apresentar um relatório até o fim de novembro, que será debatido em 20 de dezembro pelos 211 filiados, em um encontro virtual.
Foto em destaque: Divulgação / FIFA