Calma, não é pra agora. É pra quando precisar. E quando precisar você saberá.
Oi torcedor, tudo bem?
Sei que agora você deve estar curtindo o feriado e já pensando no jogo do fim de semana ou sonhando com o futebol que a seleção apresentou ontem contra o Uruguai, mas eu vim aqui propor uma reflexão. Principalmente porque hoje, dia 15 de outubro, é dia dos professores. O que isso tem a ver com o futebol? Eu te explico. A sociedade esteve, está e estará sempre em processo contínuo de aprendizado – seja para reconhecer e perceber erros para evitar de cometê-los de novo no futuro ou para descobrir algo que possa mudar o jeito de viver. E, por fazer parte da sociedade, o futebol é parte disso.
No meu caso, brinco que cresci frequentando três escolas diferentes: a escola regular, a escola da vida e a escola chamada futebol. As duas últimas vieram de graça e meus pais nem tiveram que se preocupar em me matricular nelas, já que eu já vim com elas duas de fábrica. Quando falo de fábrica, é porque eu sempre demonstrei ser apaixonada pelos dois: pela vida e pelo futebol. Os primeiros aprendizados – e os mais doloridos – vieram com a Copa do Mundo.
Tudo começou em 2002, quando eu tinha três anos de idade. A alegria da torcida e a energia que aqueles momentos traziam para o ambiente me fizeram acreditar que eu queria viver aqueles momentos pelo resto da minha vida. O Brasil inteiro parava em frente a TV às três horas da manhã para ver 22 homens correndo atrás da bola. Se você perguntasse para a Beatriz de três anos se ela queria a Copa de 2 em 2 anos, pode ter certeza que ela responderia um sim com direito a brilho nos olhos e tudo.
Quatro anos depois, em 2006, tudo tinha mudado. Com sete anos de idade, a mesma menina que usava a camisa de time maior do que ela mesma tinha mudado. Não estou falando só do lado de fora, mas do lado de dentro também. Ela não assistia mais futebol como era acostumada, porque assistir doía demais. Mesmo com os dois parceiros de futebol que tinha ganhado no meio do caminho (mais conhecidos como irmãos mais novos), ela não estava pronta para ensinar tudo o que sabia para os dois. O problema de saúde que tinha destroçado todos seus sonhos de viver do esporte tirou também sua vontade de assistir aquilo. Afinal, pra viver de esporte só sendo atleta né? Pelo menos era assim que acontecia na cabeça de uma criança de sete anos de idade.
A verdade é que a Copa do Mundo da Alemanha foi o evento que mudou sua percepção de vida. Foi nessa Copa que ela teve a certeza absoluta que estaria ali algum dia, não importando se era dentro ou fora do campo. Foi nessa Copa que aprendeu a amar a pátria, aprendeu sobre países e jogadores que nunca aprenderia se não fosse pelo futebol, ganhou ídolos e seleções que sempre vão estar no meu coração. Foi nessa Copa também que ela aprendeu, do jeito mais dolorido de todos, que era necessário perder.
Claro que eu não aprendi isso na hora. A derrota nas quartas de final contra a França me fez ver a bandeira da França com olhos diferentes. A raiva do Thierry Henry e do jeitinho requintado que pronunciavam seu nome se tornou incontrolável e se transportou a absolutamente tudo que vinha da França. Isso só veio mudar em 2014. A grande verdade é que o 7 x 1 não me marcou tanto quanto aquele 1 x 0 contra a França e eu sabia o por quê. Além de já ter um amor pela Alemanha (principalmente por alguns personagens também presentes lá em 2006), eu era mais madura e tinha a consciência de que a derrota poderia trazer coisas boas. O 7 x 1 me fez perceber a fragilidade daquela seleção sem a principal peça do quebra-cabeça.
No mesmo ano, quando decidi acompanhar mais futebol internacional, o destino me fez reencontrar com o mesmo Thierry Henry que tinha me feito sofrer e manchar o sofá de tanto chorar. Já com 15 anos, decidi agir como adulta que eu queria ser. Dar uma segunda chance àquele que tinha me machucado. Nem sempre isso é bom e saudável, mas no meu caso deu certo. Hoje, com 22 anos, sou torcedora do Arsenal, como croissants normalmente e penso até em fazer um quadro do Henry pra selar as pazes em grande estilo.
Mas qual a reflexão? A de que assim como os de alegria e euforia, os momentos tristes e de raiva fazem parte do processo. O de renovação constante. Mesmo quando tudo parece perfeito, que nada precisa ser melhorado ou alterado, a vida vai lá e mostra que é ao contrário. Na minha cabeça e na da de metade do mundo, o time de 2006 era o perfeito para o hexa. Alguns falam até que era melhor que o do penta. Mas se o gol de Henry não acontecesse ali, a história poderia ser completamente diferente. E isso inclui para lados bons e ruins.
Não podemos mudar o passado. O que podemos fazer é escrever o presente para um futuro melhor. Essa carta vale para quando seu time estiver em um beco sem-saída ou em uma fase perfeita. É para te lembrar que tudo passa. Que podemos aprender com os erros e ter momentos ainda mais felizes no final. O futebol é feito de emoção e ela foi feita pra ser sentida. Por isso: comemore, chore, critique, esperneie. Viva a vida e o futebol no seu máximo. Eu prometo que vale a pena.
Foto de destaque: Divulgação/CBF