Com mais da metade dos habitantes, o Brasil é o país com a maior população negra fora do continente africano, mas os casos de racismo ainda são comuns dentro e fora de campo. Segundo o Observatório da Discriminação Racial, no futebol até o final do mês de agosto, desse ano, foram registrados mais casos que no ano de 2020.
No ano passado, foram registrados 31 casos dentro do futebol, o que poderia parecer uma diminuição e a expectativa de um cenário melhor, mas que na verdade só representa algo pior. Por conta da pandemia, tivemos um período sem jogos e desde que retornou não conta com público nos estádios brasileiros, mostrando que a maioria dos casos vem de pessoas ligadas ao clube, como dirigentes e funcionários, indivíduos ligados à administração e profissionais da imprensa.
Muitos clubes lutam contra o racismo fazendo campanhas e até mesmo lançando camisas pretas, como forma de manifestação. Mas por outro lado, notas oficiais feitas pelo clube estão causando desconforto nos torcedores, por algumas vezes duvidarem até da vítima. Foi o caso do jogador Celsinho, do Londrina.
O meio campista sofreu racismo três vezes somente este ano. O primeiro caso foi em 17 de julho, contra o Goiás, quando o narrador Romes Xavier e o comentarista Vinícius Silva realizaram comentários racistas em relação ao cabelo do jogador. Após o ocorrido, o time se manifestou com profundo repúdio e os radialistas foram suspensos de suas funções.
Em 23 de julho, Celsinho foi vítima de injúria racial por Cláudio Guimarães, da Rádio Clube do Pará, que comparou o cabelo do atleta com um ninho de cupins. Ele também foi afastado do cargo. Um pouco mais de um mês após esses casos, no último dia 28, a ofensa veio por meio de um dirigente do clube do Brusque.
O jogador do Tubarão relatou que foi chamado de “macaco” durante a partida. Após o Brusque soltar uma nota dizendo que foi oportunismo e negando as acusações contra o clube, o Londrina publicou um vídeo que dá para ouvir o grito. Sucessivamente com um novo comunicado, o clube de Santa Catarina admitiu o erro e pediu desculpas ao jogador.
Celsinho promete ir até o fim nos casos de racismo. No começo do mês de setembro, o jogador deu sequência a mais algumas fases, registrando boletim de ocorrência e prestando depoimento sobre o ocorrido, relacionado às ofensas na partida contra o Brusque.
Se engana quem pensa que isso só acontece no Brasil. Pelas Eliminatórias Europeias da Copa do Mundo de 2022, no jogo entre Polônia e Inglaterra, a equipe inglesa executou um protesto antirracista, devido aos acontecimentos recentes envolvendo os atletas da seleção. Os torcedores do time polonês vaiaram a atitude dos visitantes. Durante os gritos, o centroavante Robert Lewandowski olhou para a arquibancada e apontou para a palavra “respeito”, que estava no patch na manga da sua camisa.
O racismo é crime e existe uma luta diária dentro e fora de campo para combater esse mal. Os casos citados são apenas alguns de vários que acontecem todos os dias. O importante é ter consciência e continuar combatendo. Vidas negras importam.
Foto de destaque: Divulgação/Londrina Esporte Clube