Em carta aos presidentes de federações estaduais, dirigentes dizem que a gestão dele foi ‘autoritária, centralizadora, errática e personalista’
Mais um capítulo para o escândalo envolvendo Rogério Caboclo e Confederação Brasileira de Futebol. A diretoria da entidade reagiu, nesta quinta-feira (24), a uma carta que o presidente afastado da entidade mandou para os presidentes das 27 federações estaduais de futebol, com o objetivo de voltar ao poder.
Em resposta, os 16 diretores enviaram outra carta com os mesmos destinatários, acusando Caboclo de uma gestão “autoritária, centralizadora, errática e personalista” como presidente. No documento, eles também afirmam que ele tentou usar os cofres da CBF para financiar um acordo particular.
O papel das federações é decisivo na votação que decidirá a destituição de Rogério Caboclo do cargo. Ela ainda não foi convocada, pois o Comitê de Ética ainda não concluiu sua investigação sobre assédio moral e sexual apresentado por uma funcionária da CBF.
A denúncia de assédio
No último dia 4 de junho, uma funcionária da CBF protocolou uma denúncia de assédio moral e sexual contra Rogério Caboclo. O documento foi entregue à Comissão de Ética da CBF e à Diretoria de Governança e Conformidade. Os fatos narrados trazem relatos de constrangimentos sofridos por ela em viagens e reuniões com o presidente e na presença de diretores da CBF. Na denúncia, ela detalha os comportamentos abusivos do presidente afastado, além de contar os detalhes dos episódios.
Dois dias depois da denúncia ser feita, o Comitê de Ética afastou Rogério Caboclo por 30 dias da presidência. Na ocasião, a entidade informou que o processo seguiria em sigilo e, desde então, o dirigente tenta articulação nos bastidores para voltar ao poder o mais rápido possível.
Caso o parecer do processo seja para o afastamento de Caboclo, a CBF deverá convocar uma Assembleia Geral Administrativa para votar a destituição de Rogério Caboclo. Segundo o Código de Ética, as decisões do Comitê de Ética devem ter aprovação de 3/4 das federações. Ou seja, Caboclo precisa do apoio de pelo menos sete das 27 federações para voltar ao cargo.
Com o objetivo de resolver os impasses internos sobre o futuro e por pressão dos patrocinadores, a CBF tem como prioridade garantir que a decisão da Comissão seja referendada de forma unânime. Se a Assembleia Geral decidir votar sua destituição antes de esperar a decisão da Comissão de Ética – ou seja, o impeachment do presidente – serão necessários 8/10 para cassar o dirigente. Sendo assim, 22 dos 27 votos.
A carta da diretora da CBF
“Senhores Presidentes,
Em nome da transparência e do respeito que a Confederação Brasileira de Futebol tem pelas Federações Estaduais, informamos que a Diretoria da CBF protocolou nesta quarta-feira (23/6) manifestação à Comissão de Ética do Futebol Brasileiro, nos termos do artigo 143 do Estatuto Social da entidade. A Diretoria, de forma unânime, defende que seja mantido o afastamento do presidente Rogério Caboclo até a conclusão das investigações das graves acusações que pesam contra ele, de assédio sexual e assédio moral contra uma funcionária da entidade.
Denúncias dessa gravidade precisam ser apuradas de forma isenta e livre de pressões. Sem ameaças, promessas de vantagens ou tentativas de usar os cofres da entidade para financiar acordos de caráter particular. Essa sempre foi e continuará a ser a postura desta Diretoria.
Ao invés de tentar justificar sua conduta, Rogério Caboclo opta por desviar o foco das contundentes acusações, recorrendo a infundadas teorias da conspiração que não guardam nenhuma relação com o assunto.
A Diretoria da CBF não é um órgão político. Nossa função é técnica. Temos nos concentrado em trabalhar pela continuidade do futebol brasileiro, das competições e das atividades das Seleções, sob a liderança do presidente Antônio Carlos Nunes. Assim como sempre fizemos durante a gestão do presidente afastado, mesmo quando o trabalho era dificultado por uma condução centralizadora, autoritária, errática e personalista. Invariavelmente trabalhamos para preservar a governabilidade da entidade e evitar abusos de poder.
Os Senhores, que conhecem como ninguém a rotina da CBF, são testemunhas desse trabalho. Os Diretores, em conjunto com os Vice-Presidentes e com todos os colaboradores da CBF, contando com o inestimável apoio dos Presidentes das Federações, têm trabalhado incansavelmente em prol do constante de envolvimento do futebol brasileiro.”
Foto de destaque: Lucas Figueiredo/CBF