A volta de parte dos torcedores aos estádios foi motivo de reunião na CBF, mas e os surtos de coronavírus? Por qual motivo não há atitude?
Na última terça-feira (17), o ex-jogador e atual comentarista Casagrande declarou, no programa ‘Globo Esporte’, que o atual surto de coronavírus nos clubes brasileiros deveria ser um motivo para que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) paralise o Campeonato Brasileiro. Na verdade, Casagrande foi além, dizendo que o erro está lá atrás, no retorno. E eu concordo.
“O futebol errou lá atrás. Na minha opinião, lá atrás, na discussão sobre volta ou não volta, errou. Agora, eles não podem errar. Na minha opinião, tem que parar o campeonato, porque não pode continuar dessa maneira. Não pode, cara. A coisa vai correr. Tem que voltar tudo de novo, senão não vai dar certo”, disse o comentarista.
Até o fechamento deste texto, metade dos times da Série A do Brasileirão confirmaram casos de Covid-19 em seus elencos. Dentre 10 clubes, estão registrados 55 jogadores infectados pelo vírus. O Palmeiras é o líder da lista, com 15 atletas, seguido do rival Santos, com 11.
Confira a lista completa:
- Palmeiras: 15 (Jailson, Vinicius Silvestre, Gabriel Menino, Matías Viña, Luan, Alan Empereur, Benjamín Kuscevic, Danilo, Gustavo Scarpa, Quiñonez, Gabriel Silva, Rony, Gabriel Veron, Marino Hinestroza e Pedro Acacio);
- Santos: 11 (João Paulo, Lucas Veríssimo, Madson, Diego Pituca, Jobson, Jean Mota, Alex, Alison, Sandry, Ângelo e Vladimir);
- Atlético-MG: 8 (Alan Franco, Allan, Vargas, Victor, Réver, Guga, Savirino, Gabriel);
- Vasco: 7 (Carlinhos, Miranda, Castan, Ribamar, Ulisses, Tiago Reis e Fellipe Bastos);
- Coritiba: 4 (Ricardo Oliveira, Nathan, Henrique Vermudt e Ramón Martinez);
- Fortaleza: 3 (Osvaldo, Yuri César e Paulão);
- Internacional: 3 (Daniel, Patrick e Nonato);
- Corinthians: 2 (Jô e Mateus Vital);
- Sport: 1 (Rafael Thyere);
- Fluminense: 1 (Pacheco).
Voltando à declaração de Casagrande, digo que estou totalmente de acordo. Entendo que a paralisação do futebol prejudica diretamente os cofres dos clubes, das organizações, de marcas patrocinadoras, mas até quando a economia ficará à frente da saúde das pessoas? De jogadores, técnicos, funcionários, árbitros, jornalistas que, quando finalizam a jornada de trabalho, vão para suas casas e se encontram com suas famílias? Muitas vezes crianças, idosos, esposas grávidas!
Por qual motivo a CBF não se pronuncia, em nenhum instante, sobre o surto da doença nos clubes? Antes da atual situação, quantos outras equipes já não passaram por grandes números de infecção e sofreram com o impacto nos jogos e, consequentemente, nos resultados?
Atlético-GO, Corinthians, Flamengo, Goiás… além de times da Série B. A paralisação do futebol por pouco mais de quatro meses fez com que todas as competições acontecessem simultaneamente, tornando intensa a sequência de jogos e já afetando fisicamente os atletas. E os times ainda têm o plus dos desfalques por coronavírus?
É tão difícil que a entidade máxima do futebol brasileiro, já que autorizou o retorno do esporte, faça um replanejamento junto às instituições responsáveis pelo futebol sul-americano, como a Conmebol? Ou será que a ideia de tomar alguma providência só virá quando algo pior acontecer com algum jogador?
Como, em algum momento, a CBF chegou a cogitar o retorno de parte dos torcedores aos estádios e nem se manifesta sobre o surto de coronavírus nos clubes? O que será feito? Bom, provavelmente nada! Mas reitero: o retorno do futebol em meio à pandemia foi, de longe, o erro mais grave cometido pelos responsáveis por este esporte em 2020.
Foto de destaque: Pedro Vilela/Getty Images