Jogadores negros no Brasil, ou em qualquer outro país, sempre tiveram que ter bem mais que um bom futebol para estar dentro de campo e Paulo César é um deles
Talvez o nome Paulo César seja estranho para você. Mas, quem ama futebol conhece bem um certo jogador apelidado carinhosamente por Tinga. E é exatamente sobre ele, que o Raízes Negras vai falar na coluna de hoje.
Como muitas das crianças no Brasil, um dos maiores sonhos é ser jogador (a) de futebol, conseguir dar uma condição de vida melhor aos seus pais e escolhem o esporte como meio para conseguirem isso. Tinga, em 1997, quando começou a ganhar visibilidade no futebol do Sul, disse em entrevista ao repórter Regis Rösing:
“Já prometi pra ela que isso aí vai mudar”.
Tinga viu isso rapidamente se tornar realidade. Ainda como promessa do Tricolor de Porto Alegre, Tinga conseguiu não só o respeito, mas também a admiração da torcida gremista. Todo esse respeito chegou na arquibancada do antigo Olímpico, quando a torcida reproduziu uma das mais populares músicas de uma escola de samba local: “TINGA, TEU POVO TE AMA”.
Apesar de Paulo Cesar ter mudado a história de sua família e tantas outras, há algumas coisas que infelizmente não mudam: O racismo. Tinha conta que em um jogo de 2001, Ronaldinho Gaúcho marcou e correu pra abraça-lo dizendo:
“Esse gol é pra nós, que somos da Vila”.
Aparentemente, ser da Vila e ter a pele mais escura ainda é um problema. Tinga carrega no nome o seu bairro: Restinga, onde nasceu e foi criado.
Tinga sempre foi respeitado por todos os clubes que jogou e foi ídolo em alguns deles. Jogador de marcação forte, goleador, disciplinado e presente nos quatros cantos do campo, o jogador foi um dos atletas mais importantes do Internacional entre 2005 e 2006.
Ídolo no Internacional, um dos jogadores mais respeitados do Cruzeiro e do Borussia Dortmund da Alemanha, sempre foi um jogador sério, tanto fora como dentro de campo, jogador que unia o grupo e extremamente focado. Alguns dos seus ex-treinadores confirmam isso, como Marcelo de Oliveira:
“Tinga sempre foi referência para os mais novos”.
Apesar de tanto esforço, gols, títulos conquistados e etc, nada foi capaz de dar fim ao racismo que sofria. O jogador conta que em 2005 já chegou a ver imitações de macaco vindo da arquibancada sempre que tocava na bola. Chegou também a ouvir ao final de um jogo no Peru, mais falas racistas por parte de alguém na torcida.
Tinga foi mais uma vez forte e falou com os repórteres após a partida:
“Se pudesse não ganhar nada e ganhar esse título contra o preconceito, eu trocaria todos meus títulos por igualdade em todos os lugares, todas as áreas e classes”.
E é isso! Continuemos na luta, pois o racismo está longe de acabar. Tinga pode ter certeza de uma coisa, foi exemplo para milhares de crianças e mais importante ainda, para milhares de crianças negras com o mesmo sonho, sem dúvidas ele tem a representatividade.
Foto de destaque: Reuters