Wesley Piontek, do Bragantino, foi julgado e condenado em 2019 por causar lesões corporais graves e ameaçar a até então namorada. Red Bull e Nike estampam suas marcas no uniforme do clube e estão vinculadas ao jogador
Com muita discrição, no último domingo (11), o atacante Wesley Pionteck, do Red Bull Bragantino, estreava na Série A do Campeonato Brasileiro. Porém, no dia 8 de outubro, o jogador estava em uma delegacia em Bragança Paulista, após ser abordado por policiais que identificaram um mandado de prisão emitido contra o atacante.
Tudo isso porque, em outubro de 2019, o jogador foi condenado a um ano e quatro meses em regime aberto por lesão corporal em violência doméstica, após agredir a sua então companheira. A defesa do jogador na época recorreu à decisão, mas a condenação foi mantida em segunda instância. A sentença já transitou em julgado. Ou seja, é definitiva.
O advogado de defesa do jogador, José Eduardo Marchió da Silva, diz que o comunicado de foragido que fez com que o atacante fosse encaminhado à delegacia foi um “equívoco”, porque, segundo ele, Wesley não tinha sido intimado a se apresentar. Ainda na quinta-feira (08), o jogador prestou esclarecimentos e foi liberado.
Porém o clube, apresentou outra justificativa para o caso:
Como cumpre regime aberto, ele deve informar seu paradeiro periodicamente. Quando estava atuando, por conta das viagens, essa comunicação era feita pelo clube. Como o atleta estava sem jogar desde janeiro por conta de uma lesão, a comunicação não foi realizada e automaticamente é gerado um aviso à polícia sobre a situação”, explicou o Red Bull Bragantino, por meio de nota.
Ainda no comunicado, o clube se defendeu por ter no seu elenco um atleta condenado por violência doméstica.
A pena imposta pela Justiça vem sendo cumprida exatamente como determinada e não há reincidência por parte do jogador. O clube acompanha o caso e acredita que uma rescisão de contrato vigente ou algo semelhante acabaria com qualquer chance de reintegração do indivíduo perante a sociedade”.
Embora a diretoria do clube se mostre preocupada com a ressocialização de condenados, não há, segundo o portal ‘Globo Esporte’, além de Wesley, nenhum outro funcionário que esteja recebendo a mesma oportunidade.
A assessoria de imprensa do Red Bull Bragantino diz ter uma agenda relacionada a causas sociais, com ações nas redes sociais promovendo o combate ao racismo, o orgulho LGBTQIA+ e a conscientização sobre o câncer de mama, entre outros assuntos. Desde que a atual gestão assumiu, em 2019, contudo, a violência contra a mulher não foi pauta dentro do clube.
Entenda o caso
A agressão pela qual o atacante foi condenado ocorreu em janeiro de 2020. Conta no processo que o jogador provocou lesões corporais graves na ex-namorada e a ameaçou. Quando interrogado, o atleta diz ter “perdido a cabeça” por ciúmes.
A vítima, porém, confirmou que sofria com isso desde o começo do relacionamento e que, na noite em que tudo aconteceu, Wesley a golpeou com uma faca. Na época, os direitos dele pertenciam ao Botafogo-SP e estava emprestado ao Santos.
Patrocinadores se isentam do caso
O ‘Globo Esporte’ perguntou à proprietária e aos patrocinadores do Red Bull Bragantino qual a posição das empresas sobre o vínculo com um atleta condenado.
A Nike, por meio de sua de assessoria, informou que “repudia veementemente todo e qualquer ato de violência, seja física ou moral”.
A Red Bull, que além de dona do clube exibe sua marca no uniforme, respondeu que “a questão é da competência das autoridades legais determinar os fatos bem como a pena que julgarem adequada”.
A Netbet, que aparece nas mangas da camisa do time, foi procurada pela reportagem do ‘GE’, mas não respondeu.
Caso Robinho
A contratação de Robinho pelo Santos causou muitas queixas negativas nas redes sociais, mas mesmo assim muitos atletas e dirigentes do próprio clube defenderam o jogador. Ele foi condenado por estupro em 1ª instância na Itália em 2017, e entrou com recurso na Justiça para recorrer, respondendo em liberdade. Seu retorno ao futebol brasileiro acentua mais ainda um agravante que temos há muito tempo no nosso futebol: a violência doméstica, e não apenas o silêncio de muitos clubes, mas além disso, a exaltação errônea dos mesmos, até dos torcedores.
Para Marco Bettine, professor associado da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e Pós-Doutor em Sociologia do Esporte pela Universidade do Porto, a rejeição é um sinal de que existe um movimento organizado para lutar contra a cultura machista e patriarcal.
A sociedade está evoluindo e, neste momento, está se construindo um bloquinho para mudança estrutural nesse sentido. O caminho é a sociedade civil organizada, mais do que os políticos. A existência dessas ações a curto prazo, com a imprensa e as pessoas colocando luz nessa ação, já pode ser visto como uma grande conquista”.
Por outro lado, Bettine aponta que o caminho ainda é longo, tanto que o Santos ignorou a pressão e decidiu trazer o jogador.
Serão necessários vários casos de Robinhos e Marielles (Franco, vereadora do Rio de Janeiro, assassinada em 2018) e de outras tantas mulheres estupradas para haver uma mudança profunda na sociedade”.
Como podem ver, temos muita luta ainda pela frente. E nada é tão simples quanto parece, sabemos que o que vemos é apenas a ponta do iceberg. Porém, eu acredito que no futuro, não terá mais espaço para pessoas machistas, homofóbicas, racistas, ou que tenha qualquer nível de preconceito. Aqui estou tratando de futebol, mas sabemos que vai muito além, para a vida. A conscientização é a chave, e o futebol é um esporte bonito que representa a união e não esse circo que hoje estão armando.
Foto de destaque: Ari Ferreira/Red Bull Bragantino