As Leoas da Serra representam a região de Santa Catarina nas principais competições de futsal. Pelo Brasil, a equipe, com o seu projeto multicampeão, pensa no futuro da modalidade e é exemplo dentro e fora de quadra
Encerraremos essa semana do especial sobre o futsal feminino no Brasil com uma das principais equipes que temos no país. As Leoas da Serra são de Lages, em Santa Catarina, e dominam a modalidade na região. O time possui um plantel forte de jogadoras, e algumas também compõem o elenco da Seleção Brasileira.
A equipe conta com a melhor jogadora do mundo, Amandinha, em seu elenco. E tem como principais conquistas o Mundial, Libertadores, Copa das Campeãs, Copa do Brasil, Taça Brasil e Supercopa.
Conheça aqui a sua história.
O início das Leoas da Serra
O futsal feminino das Leoas da Serra nasceu no ano de 2013, através da junção de dois times rivais em Lages, a Mecânica Brasil Futsal Feminino e a Marka Sports Futsal Feminino. O foco no ano inaugural era disputar os campeonatos municipais e representar Lages nos Jogos e Joguinhos Abertos de Santa Catarina.
As inúmeras conquistas das Leoas já em seu ano inaugural demonstravam que o projeto tinha tudo para se consolidar. Segundo Adriana Tiga, ex-atleta da equipe e atual supervisora, o bom desempenho fez com que o time feminino passasse a ter ampla cobertura da mídia regional em 2014.
“A equipe adulta teve sua melhor temporada, com a conquista dos Jogos Abertos regionais e com a participação na Liga Nacional de Futsal. No final do ano, uma renovada equipe sub-15 conquistou o bicampeonato da Copa SESC”, disse a supervisora ao Rainhas do Drible.

O ano de 2015 marcou a afirmação do projeto Leoas da Serra no campo social e no esporte de rendimento. As atletas bolsistas da Uniplac e do Colégio Santa Rosa de Lima passaram a ministrar aulas de futsal feminino para crianças, de maneira gratuita.
Adriana contou que na Taça Lages de Futsal, uma competição organizada pela primeira vez pela Fundação Municipal de Esportes, as Leoas da Serra chegaram à decisão com suas duas equipes, o adulto e o sub-18.
Nos Joguinho Abertos, veio a conquista inédita da Etapa Regional, que Tiga avalia como “uma final histórica” contra a equipe de Caçador. Na Etapa Estadual, as Leoas obtiveram uma ótima campanha e um quarto lugar que “surpreendeu o estado de Santa Catarina”.
“A comissão técnica foi reforçada com a chegada do treinador Éder Popiolski, nome fundamental do futsal nacional e campeão do mundo com a Seleção Brasileira”.
Na categoria adulta, as Leoas conquistaram o bicampeonato regional dos JASC, em Rio do Sul. Assim como nos Joguinhos, a final foi contra Caçador, com vitória lageana por 2 a 1. Na fase estadual, disputada em Erval Velho, uma inédita medalha de prata para a cidade de Lages.
“Na final contra Balneário Camboriú, o ouro esteve muito próximo das Leoas, mas escapou na prorrogação”, lamenta Adriana.
A supervisora conta que o ano de 2016 começou com “dobradinha” na Copa Ki-Bola de Futsal. “O time sub-18 venceu o adulto na final. Após um 3 a 3 em tempo normal, as ‘novinhas’ foram campeãs nos pênaltis. No campeonato estadual adulto, o time se consolidou entre os grandes do Estado, ficando em terceiro lugar”, disse ela.
“Estava consolidado o domínio das Leoas da Serra no futsal feminino da cidade”.

O tempo presente das Leoas da Serra no futsal
As Leoas da Serra são frequentemente campeãs de competições importantíssimas e que marcam a história do futsal feminino. O projeto, que começou pequeno, se consolida dia após dia no Brasil, ao ponto de ter se tornado referência quando o assunto é futsal feminino.
Adriana diz que a equipe encara esses fatos relacionados ao time com seriedade e que elas sabem da responsabilidade de carregar a modalidade para o topo que, segundo ela, é o seu lugar de direto.
No começo, não imaginávamos virar referência na modalidade. Nossos princípios eram outros. Era o empoderamento feminino, a igualdade de gênero e o combate à violência doméstica”.
O time de Lages possui um projeto social que se chama “Escola de Leoas”, onde meninas de 5 a 17 anos praticam futsal em polos onde as próprias atletas de alto rendimento são monitoras. No site das Leoas da Serra, há uma parte explicando o projeto (que já chega a ter centenas de participantes) e os seus valores sociais.
Todas compreendendo e praticando a propagação do bem. Todas mostrando ao mundo que não aceitamos um não como resposta: sim, nós vamos jogar futsal; sim, nós vamos transformar nossa realidade. Com a bola nos pés e grandeza de alma […] Por trás de cada atleta que entra em quadra, há o sonho de muitas meninas de poder jogar, estudar, sonhar, viver. É por elas que jogamos, e por dias e vidas melhores”, trecho retirado do Site das Leoas da Serra.
A Escola de Leoas é um investimento feito no futuro. As categorias de base são as novas gerações do esporte. Sem elas, não há continuidade em trabalho de modalidade alguma. “Sem base não há futuro, não adianta pensar lá na frente se não plantarmos as ‘sementinhas’ hoje”, acrescentou Adriana Tiga.
Hoje, as Leoas da Serra sustentam o seu projeto social através da lei do incentivo ao esporte e o alto rendimento com o patrocínio de empresas privadas. Porém, nem sempre foi assim. “Como em todo esporte feminino, no começo, a nossa principal dificuldade foi a falta de apoiadores”, disse Adriana Tiga.
A Prefeitura de Lages possui um papel fundamental no projeto. Segundo Adriana, são eles quem auxiliam a equipe na infraestrutura e em viagens. O cotidiano da equipe sem a pandemia eram de treinos em dois períodos e de segunda a sexta.
“Físico pela manhã e técnico/tático a tarde. Entre os intervalos de treinos, algumas vezes na semana fazemos ações de propaganda junto aos nossos patrocinadores”, explicou ela.
“Precisam estar mesmo a fim de melhorar a modalidade, não estar lá para se aproveitar”.
Regiane Fernanda é a goleira das Leoas e da Seleção Brasileira. A atleta disse que três pilares precisam ser modificados para que o futsal cresça ainda mais. O primeiro está nas jogadoras terem o comportamento e a postura de atletas.

Eu sempre tive comigo que não importa aonde eu estivesse, eu agiria como profissional. Passei por times que não tinham nem metade da estrutura que tenho aqui e mesmo assim eu sempre dei o meu melhor, sempre fiz meu algo a mais, mas não para mostrar pra alguém, mas para ter a minha valorização, e acredito que automaticamente isso serve de espelho para a modalidade”, acrescentou.
O segundo ponto a ser melhorado para a goleira está nas pessoas que estão em direção da modalidade. “Precisam estar mesmo a fim de melhorar a modalidade, não estar lá para se aproveitar”, concluiu.
Em terceiro, Regiane pede mais oportunidade para o esporte e a categoria feminina. Para ela, o futsal feminino evoluiu muito e as pessoas precisam ver. “[…] ver, dar uma oportunidade… Tenho certeza que todos que assistem, gostam do que assistem, temos as melhores jogadoras no Brasil, a seis vezes melhor do mundo é daqui”, finalizou.
“Tentamos fazer a nossa parte como equipe, porém sempre com o pensamento de ajudar a modalidade”.
As Leoas da Serra possuem um plantel muito forte de jogadoras, entre elas a melhor do mundo, Amandinha. A atleta, que carrega esse título por seis vezes, tem o papel de trazer o público mais jovem para a equipe e os patrocinadores.
“A Amandinha com os seus títulos individuais engrandece qualquer equipe e o seu destaque também está na evolução da modalidade. Ela nos ajuda não só dentro de quadra, mas também fora a sua representatividade”, contou Adriana.
Além da força do elenco, as Leoas da Serra contam com um apoio fundamental em dia de jogo na cidade de Lages, em Santa Catarina. A torcida lageana marca presença e incentiva a equipe durante as competições.
“Nosso torcedor é fiel e apaixonado. Nossos jogos em Lages costumam ter o ginásio cheio”.

Para Adriana, a maior dificuldade de ser uma equipe de futsal feminino está na desigualdade de gênero, algo que, infelizmente, é muito comum no dia a dia das mulheres. Não só nas práticas esportivas, como também em todos os outros âmbitos da sociedade.
Ela concorda que, com o passar dos anos, o nível de competitividade e técnico das equipes que as Leoas jogam contra aumentou, e diz que essa mudança é boa e “eleva o nível dos jogos e consequentemente de patrocínios e visibilidade”.
Neste ano, a equipe lageense está só com a categoria adulta, e se não tivesse a pandemia, iriam disputar a Copa do Brasil, Taça Brasil, o Estadual, o JASC, a Supercopa e, se fossem campeãs, teriam a Libertadores.
“Fico feliz em fazer parte de um time onde buscam o crescimento não só da equipe, mas sim da modalidade como um todo”.
Vestir a camisa das Leoas da Serra é carregar consigo uma responsabilidade grande, por fazer parte de um time que representa muito para o futsal. Para Regiane, fazer parte dessa equipe é uma honra e realização de um sonho.
“Quem não quer estar nas Leoas da Serra? Um dos melhores times do mundo? Para mim, é uma conquista, fruto de anos de trabalho e dedicação”, disse ela.

A responsabilidade de vestir essa camisa é da mesma dimensão da minha gratidão pela oportunidade de estar aqui, sabendo que Leoas é um time modelo para o mundo e onde além da comissão, as atletas são de altíssimo nível e comprometimento. Fico feliz em fazer parte de um time onde buscam o crescimento não só da equipe, mas sim da modalidade como um todo”, concluiu a goleira.
“Acredito que, em breve, seremos profissionais de verdade”.
Segundo Regiane Fernanda, as expectativas com o futuro do futsal feminino são as melhores e, mesmo fazendo o alerta sobre a parada com a pandemia, ela segue confiante para a volta. “Acredito que voltaremos com tudo, ainda estamos longe da realidade que deveria ser para nossa modalidade, porém, já demos grandes passos”, disse ela.
A goleira ainda exalta o trabalho feito na equipe das Leoas da Serra, que trabalham como profissionais há anos, inclusive durante a pandemia. “Para estimarmos um futuro melhor, precisamos fazer a nossa parte. Os passos são pequenos, mas a perseverança é certa. Não podemos desviar do nosso foco e objetivo, que é ter o futsal feminino grande como ele deve ser”, finalizou.
Foto de destaque: Fom Conradi