‘Se Joga’: projeto desenvolvido no IFMG que incentiva o futsal feminino no ambiente escolar

O projeto, que existe há mais de um ano, pretende ampliar a iniciativa para outras escolas

O ‘Se Joga’ é um projeto desenvolvido por alunas e professoras do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) – Campus Betim, desde o início de 2019. Além de estimular a prática do futsal feminino entre as estudantes, funcionárias e membros da comunidade externa, e incentivar o cuidado com a saúde, o ‘Se Joga’ também tem como objetivo conscientizar as pessoas acerca da presença feminina no esporte, buscando colaborar com sua transformação.

O pontapé para o inicio do projeto foi dado após algumas alunas do Instituto proporem às professoras a realização de jogos de futsal entre elas. Essas partidas passaram a acontecer quase que semanalmente.

Analisando os benefícios que a atividade estava trazendo, atrelada a sua paixão pelo o esporte, a professora e coordenadora do ‘Se Joga’, Nara Nogueira, sugeriu às professoras e também coordenadoras do projeto, Flávia Siqueira e Kátia de Sá, a implementação do ‘Se Joga’ como um projeto de extensão.

No final do ano de 2018, logo após ocorrer o Interclasse, campeonato interno do instituto que trabalha diferentes esportes e envolve docentes e discentes, algumas alunas me procuraram, querendo continuar a organizar jogos informais entre professoras e alunas. Assim fizemos, quase que semanalmente, com a colaboração de todas. Tendo em mente essa importante demanda, pensando nos benefícios que a consolidação dela traria para a saúde física e mental das envolvidas e, claro, também considerando meu grande amor pelo futebol, convidei a Kátia e a Flávia para registrarmos em formato de projeto de extensão essas atividades que já eram realidade e sugerirmos algumas implementações para a prática da modalidade dentro do nosso contexto, com o apoio da Juliana e Michelle, alunas que estiveram mais à frente da organização dos treinos informais”, relatou Nara Nogueira.

Segundo as alunas e atuais bolsistas do projeto, Ana Clara Lourenço Souza e Anna Carolina Rocha Borges, no início do desenvolvimento do ‘Se Joga’ houveram alguns olhares preconceituosos por parte de outros alunos.

Logo quando o projeto se iniciou, no ano passado, houve uma dificuldade de aceitação por grande parte dos meninos do Campus em que desenvolvemos o projeto, gerando comentários do tipo: “Nossa, as meninas têm um horário de quadra só para elas, e os meninos?”. Além disso, muitas meninas que participaram do projeto se sentiam desconfortáveis com a presença de meninos na quadra durante as partidas e treinos que realizávamos, já que ainda não havia o respeito pelo corpo das meninas e não havia o reconhecimento pelo bom futebol que elas jogavam”, afirmaram.

Apesar de ainda existir a necessidade de lutar para que a presença da mulher, em qualquer espaço não seja mais contestada, Ana Clara e Anna Carolina já enxergam uma mudança quanto ao modo de observar e pensar a prática do futsal feminino dentro da escola.

Felizmente, com o passar do tempo, o trabalho desenvolvido por todas que participam do projeto já vem promovendo a conscientização dos alunos.

Com o passar dos treinos, começamos a observar uma grande diferença no modo de pensar e ver o projeto em si. Acreditamos que isso também foi impulsionado pelas rodas de conversas abertas realizadas, contando com a participação de meninos e meninas. Contudo, é perceptível que ainda há muito o que ser trabalhado para que a presença da mulher no futebol/futsal não seja um incômodo ou algo ainda contestado”, relataram.

Ao longo de seu primeiro ano, as participantes do ‘Se Joga’ visitaram escolas, jogaram partidas amistosas, treinaram e receberam a equipe sub-18 de futebol feminino do Atlético-MG para uma roda de conversa.

Além de promover a qualidade de vida das participantes, buscando valorizar o cuidado com a saúde como um todo, o projeto também tem um papel muito importante no aspecto social.

Acredito que o ‘Se Joga’ nos conecta mais conosco mesmas e com as outras mulheres que nos cercam. Em ocasiões esporádicas, também jogamos com alunos e servidores que estão ali, por perto, na quadra, e assim pretendemos tanto nos fortalecer quanto colaborar para que a sociedade em geral melhor reflita e aja em prol da igualdade de gênero”, disse Nara.

É muito importante que a escola seja um ambiente que incentive a presença de todas elas em qualquer espaço, inclusive no esporte. Muitas das participantes relataram que, apesar do gosto pelo futsal, antes do projeto, elas não tiveram a oportunidade de praticá-lo em um ambiente escolar.

A questão está atrelada a um fator histórico problemático. Desde sua instituição, o futebol foi normalizado e naturalizado como um esporte feito para homens, quando na verdade o esporte é feito para todos.

O futsal, assim como as demais práticas corporais, faz parte da cultura corporal e deve fazer parte do currículo da educação básica. As práticas corporais devem ser tematizadas e vivenciadas por todos e todas, sem restrição de gênero. Então, temos que desconstruir a ideia de que há práticas femininas e outras masculinas, pois cada um tem o direito de conhecer e praticar o que quiser, livre de preconceitos. Embora tenha melhorado, ainda convivemos com manifestações de discriminação e de preconceito em relação à mulher no futebol, então é muito importante superar essas barreiras por meio das aulas de Educação Física e de projetos como o ‘Se Joga'”, disse Kátia de Sá.

Durante o período de pandemia, o projeto ficou impossibilitado de funcionar presencialmente. A saída encontrada por elas foi publicar conteúdos voltados para a história da categoria.

Desde o início da pandemia, nós estabelecemos uma rotina de postagens para seguir durante esse período. Sendo essa a publicação de treinos que poderiam ser feitos em casa durante um curto período de tempo e a divulgação de momentos muito importantes na história do futebol/futsal feminino (o famoso #tbt), além de notícias relevantes e indicações de filmes e podcasts. Atualmente, temos variado um pouco o que tem sido compartilhado em nosso Instagram, para que não fique repetitivo”, disseram.

A meta do ‘Se Joga’ é externalizar suas ações cada dia mais, promovendo a conscientização e incentivando o interesse das meninas em desenvolver o gosto pelo esporte, que já existe dentro de cada uma delas.

Foto de destaque: Divulgação/Projeto ‘Se Joga’

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