A supervisora de futebol feminino do Palmeiras conta com exclusividade como é conciliar o trabalho com a criação de seu filho
Dentro e fora dos campos, a vida de Carol Loreto sempre foi rodeada de lutas e de conquistas. Atualmente, a supervisora de futebol feminino do Palmeiras carrega um novo combate: o de tentar arrumar uma melhor maneira de conciliar seu trabalho com a criação do filho Bernardo.
A relação entre os dois começou quatro anos atrás. Carol jamais imaginava ter que cuidar de uma criança, mas, por algumas escolhas de sua irmã, ela acabou ficando responsável por Bernardo. A ex-jogadora de futebol tornou-se mãe como se fosse da noite para o dia, assumiu uma responsabilidade imensa em um estalar de dedos.
O momento em que Carol decidiu abraçar e cuidar de Bernardo foi um dos momentos mais importantes em sua vida. “O Ministério Público foi lá na minha porta para buscá-lo, porque a guarda estava irregular. Só falou: ‘Estamos indo levar o Bernardo para Belo Horizonte’.Nesse momento eu decidi que não iria deixar, que iria pedir a guarda definitiva dele”.
Mas desde aquele momento, muitas dificuldades começaram na vida da supervisora. Ela quase perdeu a guarda do seu filho pelo menos três vezes, teve que cuidar de seus pais doentes e ainda unir tudo isso a sua busca por um trabalho. Carol sabia que a luta ia ser grande, mas tinha em sua cabeça que nada acontecia por acaso e resolveu tentar.
Em entrevista ao Rainhas do Drible, a mãe Loreto comentou sobre a importância de sempre conversar com seu filho. “Ele sabe que é adotado, que eu sou gay, sabe que teve outras mães, que tem dois irmãos da sua mãe biológica. Hoje, teoricamente, ela é meu filho único e até o momento não tem irmão. O Bernardo sabe que não vai ter um pai e sim uma outra mãe, eu não escondo nada dele”.
Para ela, a conversa é a base de tudo. É desta maneira que ele irá entender as coisas, concordar ou discordar da mãe. Atualmente, o maior medo que Carol enfrenta está relacionado com o crescimento e a educação do seu filho.
“Eu tenho medo do Bernardo ser abusado por alguém que era para cuidar dele. Eu não vejo problema nenhum em ser mãe solteira, mas essa parte de cuidar é complicada”, comentou.
Para conseguir conciliar o trabalho com o filho, Carol deixa o menino na escola em um período e, no outro, um casal de senhores que residem em Vinhedo cuidam dele. Porém, a ideia é ser cada vez menos dependente dos outros.
A ex-jogadora tem em mente colocar o Bernardo em uma outra escola para, assim, ele ficar um tempo mínimo na casa dos senhores. Uma das ideias também é aumentar o lazer do filho. Ela pensa em entrar para algum clube lá em Vinhedo, cidade onde eles moram, para distrair o garoto.
Uma das coisas que Carol também ressalta é a importância do tratamento psicológico. “O Bernardo tem medo que eu abandone-o. Faz quatro anos que estou com ele e, mesmo assim, sempre há sinais notórios de insegurança. Após a pandemia, Bernardo irá retornar para todo o seu tratamento psicológico, para ajudar ele a enfrentar os medos”.
A relação dos dois, mesmo com todos os “problemas”, só se fortalece cada dia mais. Como dizem por aí, o amor é lindo e existente em todas as formas. Mas ainda falando em amor, Carol nunca escondeu o fato de ser lésbica.
Nunca sofri preconceito nenhum. Sempre fui respeitada, porque do faxineiro ao presidente do clube eu vou ser quem sou. Não vou me esconder. Me assumi aos 15 anos para minha família. Quem me viu no passado sabe que onde eu estou hoje, é aonde sempre quis estar”.
Ela sempre viveu separando totalmente a sua sexualidade do seu serviço, com a intenção de respeitar e ser respeitada. Na entrevista, Carol comentou sobre o estereótipo residente no futebol feminino. “Se você se arruma, as próprias meninas zoam. Existe um preconceito delas próprias. Elas não estão acostumadas em ver meninas sendo meninas, mesmo que joguem futebol. A imagem do futebol feminino vem melhorando muito, víamos meninas com cabelo raspado, roupas largas. Hoje, as coisas mudaram. As meninas podem fazer o que elas quiserem, mas têm algumas que deixam de ser feliz por conta do que vão pensar”.
Loreto vivencia diariamente uma evolução no futebol feminino, seja dentro ou fora de campo. A relação com a categoria começou com o sonho de ser jogadora de futebol. Os caminhos a levaram para fora de campo como gestora e supervisora de grandes eventos e clubes.
A atual supervisora do Palmeiras feminino já trabalhou na Copa das Confederações (2013), na Copa do Mundo masculina (2014), nos Jogos Olímpicos/Paralímpicos do Rio de Janeiro (2016) e com a Seleção Brasileira de Beach Soccer (2017-2019). Carol precisou começar a estruturar sua carreira pensando muito mais em seu filho. Neste tempo, veio a proposta do Palmeiras, feita por Alberto Simão.
O trabalho no Alviverde paulista começou após a metade de 2019, quando uma parte da comissão foi demitida. Naquele momento, Carol encontrou uma imensa oportunidade. No entanto, a palavra desistir é substituída sempre por persistir. Profissionalmente ou na vida pessoal, Carol Loreto ainda tem muitos sonhos para conquistar, e o maior deles é dar a melhor vida possível para seu filho Bernardo.