A categoria vem de uma crescente desde a Copa do Mundo da França, em 2019
O futebol feminino sempre passou por várias ondas, as quais vinham em época de Copa do Mundo ou Jogos Olímpicos, e depois logo passavam. A falta dos campeonatos fixos e de investimento interferiam diretamente na relação de visibilidade da categoria.
Um dos grandes marcos desse problema no Brasil foi o pedido de apoio no final da Copa do Mundo de 2007 (foto), a qual a Seleção Brasileira perdeu a final para a Alemanha e trouxe o prata para casa. Desde aquele momento, algumas coisas vêm mudando no futebol feminino, em principal, no Brasil.
“A casa está sendo arrumada. Você tem a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) olhando as federações e tentando dar um suporte”. Quem conta isso para o Rainhas do Drible é a Coach e ex-jogadora de futebol Tabata Viana.
Este comentário tem muito a ver com a Copa do Mundo da França, em 2019. Neste momento, o futebol feminino encontrou-se em uma nova onda, um momento de recordes. Os brasileiros se uniram para assistir as ‘Guerreiras do Brasil’ – apelido da Seleção Brasileira – no Mundial, assim somando 35 milhões de pessoas somente na partida contra as francesas, que terminou com a eliminação da Seleção Brasileira.
Nesta mesma Copa do Mundo, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) revelou que iria realizar o investimento de US$ 1 bilhão na categoria e, mesmo com a pandemia do coronavírus, afirmou que manterá o valor. A ideia de Gianni Infantino, presidente da Fifa, não é somente realizar o investimento, mas também dobrar o valor da premiação e aumentar a quantidade de seleções de 24 para 32, tudo isso já no próximo Mundial, em 2023. Mas as questões que ficaram são: dessa vez, a onda do futebol feminino veio mesmo para ficar? Somente o investimento é válido?
“Precisa entender o que foi feito lá atrás para compreender o que veio depois, o resultado. Se nós não olharmos para o que está acontecendo dentro do país, como você vai dar continuidade a isso? Antes, você tinha um momento, mas não tinha um impacto. O que fez a diferença, na minha visão, foi a obrigatoriedade da Fifa para os clubes terem times femininos. Faltavam os campeonatos, eles falavam um pouco e depois morria”, disse Tabata.
Se pensarmos um pouco mais no passado do futebol feminino, não iremos encontrar campeonatos regulares e investimentos, diferente do que temos atualmente na grande maioria. “De uma certa forma, o futebol feminino nunca foi exposto como um produto, por isso ele não é tão consumido. Se você não dá opção para o seu cliente consumir, como ele vai dar valor para aquilo? Não adianta você ter um produto para ser vendido e ele estar lá atrás da prateleira, ser quase invisível”.
Entretanto, nos dias de hoje, as coisas estão mudando no Brasil e os times têm a oportunidade de disputar o Campeonato Brasileiro e os campeonatos estaduais. Isso acaba gerando uma parte dessa valorização e visibilidade que eles precisam. Assim, vemos o crescente acompanhamento das torcidas.
Com campeonatos fixos e a possibilidade de investimento, o futebol feminino vem agregando conquistas fora dos campos, mas o patrocínio para se auto-sustentar ainda é um investimento que falta.
“O patrocínio vem a partir do momento que entendemos que a exposição é válida. O futebol nos trouxe grandes ídolos. Se você conseguir mostrar que a mesma coisa acontece na categoria feminina, você associa isso com influências positivas”, comentou Tabata.
E por que será que não consegue patrocínio, sendo que há público acompanhando? Para Tabata, o principal motivo é a falta de entender que mulher também pode jogar futebol. No entanto, isso não vem do nada, precisa ser uma mudança sem volta, não somente das Confederações e Federações, mas da própria mídia e do consumidor. A população precisa entender que as meninas podem montar uma carreira no futebol feminino e ter sustento com o mesmo.
“Para você ter jogadores excelentes, precisa do básico. Uma rotina, um desenvolvimento de performance, um local onde ela consiga se desenvolver e competir. Precisa ter uma base que não se quebre, algo a longo prazo”, afirmou Tabata.
Todavia, essa base não é somente a dos grandes clubes. Ela precisa também ser aplicada nas escolas, com a ideia de que não haja separação de esportes para mulheres e para homens. “As marcas, a imprensa e o consumidor precisam querer saber, questionar. Assim vamos crescer. Os pais e as escolas precisam entender que o futebol é para mulher, precisa ter um estímulo básico”, opina a coach.
A base é um dos locais que mais precisa de estímulo e investimento no futebol feminino. Muitos dos clubes brasileiros não têm esse time inicial pelo fato da falta de capital. O investimento da Fifa é, em partes, para ajudar nesse primeiro passo do desenvolvimento. Porém, para isso tudo funcionar, as federações precisam ter conhecimento do local em que o dinheiro será investido, se irá mesmo para as formações necessárias.
US$ 1 bilhão vai resolver tudo?
Se formos avaliar, o futebol feminino sempre esteve acostumado a trabalhar com o mínimo possível, seja falando sobre financeiro ou apoio. Receber o valor estimado de US$ 1 bilhão, pela Fifa, faria uma grande diferença em alguns cenários, mas somente ele não basta. O futebol precisa ser exposto da melhor maneira possível.
“Precisamos entender a história, o modo como as coisas caminharam, para saber o que deu e o que não deu certo. E assim pensar no futuro. A mulher precisa e pode consumir esse produto. Se você pensar nisso, temos 50% da população já. É uma decisão inteligente”, afirma a coach.
O futebol feminino precisa, além do investimento financeiro, de mídia com pessoas que realmente se importam. Na final do Campeonato Paulista de 2019, o Corinthians demonstrou um grande apoio ao seu elenco. Dessa maneira, 28 mil torcedores reuniram-se na Arena do time para prestigiar a final.
O esporte é um meio de transformação e o futebol feminino está passando por uma bem importante. O Brasil está começando a se importar com a categoria. As meninas estão começando a ver grandes jogadoras na televisão e levando-as como exemplo. Não temos mais somente “Marta” como a grande conhecida, falar de seleção feminina é falar de outros grandes nomes. É disso que o futebol feminino precisa!
“O interesse tem que vir de cima para baixo. Pode ser que o futebol precise de um ajuste. Mas se a visão de investir nesse ‘novo produto’ estiver muito clara, e tiver uma estrutura e uma interferência, acredito que vá continuar sim crescendo”, finalizou Tabata Viana.
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