Palavras que gostaria de dizer ao Sócrates, mas que nunca conseguirei

Caro Sócrates, como vai?
Espero que aí em cima tudo esteja tranquilo. Já aqui, no mundo deixado por você há quase 10 anos, temos uma agitação negativa em vigor. A humanidade segue cada vez mais doente. E não falo de doenças conhecidas por sua experiência médica, mas das que envolvem o senso ético e nossa sobrevivência.
As pessoas estão estranhas, sabe? Idolatram falsos “messias”, esbravejam contra seus próprios direitos e apostam na destruição como forma de progresso. O pior é ver o jeito encontrado para justificar o injustificável, acreditando em teorias derrubadas há séculos – igual a da terra plana.
Eu sei, é bizarro. Às vezes eu me pergunto se estas situações tão preocupantes não são, apenas, um grande delírio coletivo. Quisera que fosse, Magrão. No fim, encontra-se uma grande tristeza, tanto quanto foi a sua despedida naquela tarde de domingo, dia de título brasileiro para o nosso Coringão.
Bom, não hei de traçar um resumo das mazelas atuais. O motivo da carta jamais seria chatear quem foi sinônimo de alegria e carnaval. Se o cenário fosse outro, se esta conversa acontecesse aqui, poderíamos discutir a respeito de tudo isso com mais tranquilidade, com certeza.
Inclusive, foi uma das minhas grandes vontades: entender e aprender com seus pensamentos. Para mim, você tinha uma genialidade dentro e fora de campo. Seja por desenvolver o toque de calcanhar na qualidade de característica – para ter mais velocidade no jogo – ou pelas respostas e visão do mundo externo às quatro linhas.
Agradeço à esperteza de Vicente Matheus em conseguir trazer seu brilho ao Corinthians. Foram seis anos mágicos, não foram? A mais cara contratação da época trouxe mais do que um bom desempenho e títulos estaduais. Impactou no desejo de ir além do gramado, em nossa história, em nossa democracia.
Quando escolhi o jornalismo para ser a minha profissão, tinha a meta de entrevistá-lo. Era a oportunidade para me aproximar de um ídolo e conhecer mais sobre suas histórias, talvez nunca antes compartilhadas. Porém, no mês em que me formei no ensino médio, o destino carimbou sua partida, decretando a impossibilidade de realizar este sonho.
Pelo menos, os registros de sua trajetória ficaram e a vida proporcionou a mim outras experiências. Aproximei-me de lugares por onde você passou de forma totalmente involuntária – como ir morar no Parque São Jorge e tomar café na Padaria Poesia, locais muito frequentados por você. Com estes símbolos, alimentei ainda mais a admiração pela postura de atleta e de pessoa que teve, apesar dos deslizes encontrados em todos nós.
Sua existência, Sócrates, sempre será lembrada. Ser um dos primeiros atletas, no esporte mais querido do Brasil, a usar o privilégio para amplificar a voz do povo foi, de fato, admirável. Agradeço muito pelo feito e fico aqui na esperança de que outros possam ter a mesma atitude. Porque assim, poderemos dar novos passos em direção à esperança de um futuro melhor, como tínhamos antes.
Grande Socrates, com certeza seu legado foi passado pra frente!!!
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Eu fiquei verdadeiramente emocionada. Texto brilhante!
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