Quando a Copa do Mundo da França começou, apenas nove de 24 seleções eram treinadas por mulheres. Mas conforme a competição foi chegando ao mata-mata, elas começaram a se sobressair com os resultados. Agora, das oito equipes que passaram para as quartas de final, cinco possuem treinadoras.
Todas elas estão realizando uma ótima campanha com suas equipes no Mundial, e merecem destaque pelo trabalho e por participarem de mais uma conquista no universo futebolístico, que ainda é bastante machista. Por isso, compartilharemos um pouco da trajetória de cada uma delas até aqui.
Jill Ellis
Britânica por nascimento, Jill é a mais antiga na profissão. A treinadora da equipe dos Estados Unidos, campeã mundial em 2015, está em busca do primeiro bicampeonato para as norte-americanas, que possuem três títulos, mas nunca conquistaram de forma consecutiva.
Quando criança, não teve oportunidade de jogar futebol, pois na Inglaterra ainda era um esporte restrito aos meninos. Então, ela assistia aos jogos que seu pai estava como técnico. Na mudança de sua família para os Estados Unidos, Jill começou a jogar na escola, ganhando até um campeonato sub-19 no time treinado por seu pai.
A carreira de treinadora começou nas universidades dos EUA quase que por acaso, em 1994. “Eu fui para a faculdade para jogar futebol e estudar. Fui trabalhar no mundo dos negócios por alguns anos em uma empresa de telecomunicações. Aí recebi uma ligação para ser assistente de um time na universidade. Eu fiz uma aposta acreditando que poderia dar certo, e deu”, conta.
Ela ficou cinco anos atuando na universidade, e teve a chance de trabalhar com as seleções de base dos Estados Unidos. A partir daí, foi preparada para assumir o cargo principal na equipe. Passou por etapas como assistente da técnica Pia Sundhage até ser efetivada como treinadora da equipe A da Seleção Norte-americana em 2014.
O grande mérito de Jill foi ter conseguido renovar a seleção, misturando jogadoras consagradas e experientes, como Carli Lloyd e Megan Rapinoe, com as jovens promessas, como Rose Lavelle. Se há dois anos algumas atletas pediam a saída da treinadora, hoje ela parece ter controle do grupo, promovendo mudanças de posicionamento entre as jogadoras que qualificam ainda mais o time.
Corinne Diacre
A técnica teve uma carreira sólida como jogadora, sendo a terceira atleta que mais vestiu a camisa da seleção de seu país na história. Como treinadora, começou no Soyaux, clube onde jogou a vida toda, e também atuou como assistente da seleção.
Tirou a licença profissional para poder treinar times das primeiras divisões da França e, em 2014, foi contratada pelo Clermont Foot, da Ligue 2, para ser a primeira mulher a ser técnica da equipe masculina.
Teve excelentes resultados durante três anos, com direito a prêmio de melhor treinadora da segunda divisão. Conhecida por ser rígida e exigente, Diacre foi a aposta da Federação Francesa, depois da eliminação na Eurocopa, para tentar conquistar um título internacional para a seleção. Agora, ela tentou esse triunfo dentro de casa, mas a sua equipe foi eliminada pelas norte-americanas em um ótimo jogo.
Técnica experiente e direta, ela deu uma ótima resposta quando foi questionada sobre as diferenças de treinar homens ou mulheres: “No futebol, é exatamente a mesma coisa. Em todos os estudos e cursos que já fiz, nunca vi nenhum módulo de treino que diz: se for um time feminino, você faz isso, se for masculino, você faz aquilo. Obviamente, homens e mulheres têm características físicas diferentes, mas é só isso”.
Milena Bertolini
É a técnica que conseguiu um grande feito para o futebol feminino da Itália, levando a seleção de volta à Copa do Mundo depois de 20 anos. Mas, além disso, ela faz parte de uma mudança cultural que está em processo no país, sobre a forma de como as pessoas enxergam a categoria.
Jogadora quando criança, Milena diz que era vista como menino, pois usava o seu cabelo curto e estava sempre em campo. “Os meninos me olhavam como se eu fosse alienígena. Cabelos curtos, jogando bola, eles achavam que eu não era uma mulher”, contou em uma entrevista.
A treinadora italiana já atuou pelo Bologna e pelo Modena, e se aposentou no Verona. Foi neste último que ela ganhou sua primeira chance de assumir o cargo de técnica. Foi assistente em 2002, e na temporada seguinte tornou-se a treinadora principal.
Colecionou títulos da primeira divisão italiana com diversos clubes. Tirou a licença pró da UEFA e, em 2017, foi convidada para assumir a seleção. Conquistou a classificação para a Copa do Mundo com apenas uma derrota, e segue comandando o time em uma trajetória impressionante, com duas vitórias e uma derrota na primeira fase do Mundial e eliminando a Seleção Chinesa nas oitavas de final, garantindo a vaga nas quartas.
Milena Bertolini acredita que o futebol feminino, popular nos Estados Unidos e na Alemanha, está, finalmente, ganhando atenção na Itália. E o sucesso da seleção das mulheres tem uma grande participação nisso, já que os moradores não torceram para ninguém na Copa da Rússia com o time masculino fora da competição, e agora assistem à ótima participação delas.
Sarina Wiegman
A técnica holandesa participou da primeira Copa do Mundo de futebol feminino experimental que foi organizada pela FIFA em 1988. Na Holanda, enfrentava o preconceito e as dificuldades por ser uma jogadora de futebol, e então foi para os Estados Unidos jogar por um ano. Ali, ela descobriu um lugar que apoiava a categoria e passou a querer essa realidade em seu país.
Começou a treinar equipes femininas e, em 2007, assumiu o ADO Den Haag, conquistando o Campeonato Holandês e a Copa da Holanda. Sete anos depois, recebeu o convite para ser assistente do técnico Roger Reijners na seleção.
Fez os cursos de licença UEFA, e se preparou para subir mais um nível em sua carreira. Teve oportunidades como interina entre a saída de treinadores, e só em 2017 ficou frente à frente com o seu maior desafio profissional. Faltando seis meses para a Eurocopa, a seleção não tinha técnico. A Federação pediu ajuda do que fazer, e Sarina disse que estava na hora de assumir o cargo.
Foi o que aconteceu, e a técnica conseguiu levar a equipe ao título internacional. A Euro foi conquistada em casa, com torcedores enchendo estádios e ruas para apoiá-las. Depois disso, Sarina foi eleita a melhor treinadora do ano pela Fifa, e chega à França em busca do título.
Martina Voss-Tecklenburg
A técnica alemã assumiu o cargo depois das eliminatórias da Copa do Mundo em uma crise na seleção, com resultados decepcionantes depois da conquista do ouro olímpico. Ela tem experiência na Seleção Suíça, dando a classificação das meninas pela primeira vez em uma Copa e em uma Eurocopa. Assim, ganhou a responsabilidade de comandar as alemãs em busca do título 12 anos depois da última conquista.
Como jogadora, Martina tem seis títulos do Campeonato Alemão e quatro da Eurocopa pela seleção. Com experiência dentro e fora de campo, agora tem liderado a equipe com uma campanha incrível, com quatro vitórias e nenhum gol tomado por enquanto.